Turismo Cemiterial


Cemitérios são lugares fascinantes, cheios de curiosidades, símbolos, obras de arte e mistérios. O lugar escolhido para o repouso eterno de entes queridos pode ser também uma ilha de silêncio e paz, onde se pode repensar a vida, e caminhar por dentro de si mesmo. A arte cemiterial possui peculiaridades que convidam a uma análise minuciosa, desprovida de preconceitos.
Visite um cemitério. A morte faz parte da vida.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Arqueólogos encontram antigos poços funerários no norte do Amapá

Sítio tem cerca de mil anos, diz pesquisador do Iepa.
No local, foram encontradas peças de cerâmica com formas humanas.



Uma equipe de arqueólogos descobriu dois poços funerários com vasos de cerâmica num sítio em Calçoene, no norte do Amapá. O local já era conhecido desde 2006 por causa de círculos de pedra que foram encontrados sobre o solo. Agora, no entanto, o grupo liderado por João Saldanha e Mariana Cabral, do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Amapá (Iepa) explorou o que havia sob as grandes placas rochosas depositadas no local.
Saldanha explica que os poços têm cerca de mil anos e que os vasos encontrados são surpreendentes porque têm formas humanas, como as cerâmicas encontradas pelo célebre pesquisador Emílio Goeldi no século XIX na região do Cunani. (foto acima)
O povo que cavou os poços tinha por hábito descarnar e separar os ossos de seus mortos, colocando-os em grupos separados nas urnas funerárias acomodadas em câmaras laterais ao buraco principal no solo. Os círculos de grandes pedras sobre o solo caracterizam que o local tinha função religiosa.
De acordo com Saldanha, há atualmente na região do Oiapoque índios que têm modo semelhante de sepultamento, mas não está claro se seriam descendentes do povo que viveu em Calçoene.
http://www.globoamazonia.com/Amazonia/0,,MUL1508952-16052,00-ARQUEOLOGOS+ENCONTRAM+ANTIGOS+POCOS+FUNERARIOS+NO+NORTE+DO+AMAPA.html

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Feira de luxo vende caixão de ouro equipado com telefone

Um caixão de ouro equipado com um telefone móvel avaliado em 280 mil euros (381 mil dólares) está entre os artigos à venda numa feira de artigos de luxo na Itália. O  telefone móvel no caixão é para enviar mensagens aos parentes caso a pessoa seja enterrada viva por engano, explicam os criadores.

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http://www.divirta-se.uai.com.br/html/sessao_21/2010/02/26/ficha_verpracrer/id_sessao=21&id_noticia=21327/ficha_verpracrer.shtml

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Edificio funerário moderno

Aparentemente não há aqui nenhuma construção, apenas jardins e muros. E, no entanto, é neste local que se localiza a morgue da cidade de León, um edifício que ocupa uma área extensa mas que tem a particularidade de se encontrar enterrado no solo. Não possui por esse motivo fachadas viradas à rua e o elemento com maior visibilidade é o lago artificial que lhe serve de cobertura mas que se confunde com a paisagem. Clarabóias em betão emergem do solo juntamente com uma rampa também em betão por onde se faz a entrada. Tudo é discrição e sobriedade neste espantoso edifício funerário.

Os seus autores, Jordi Badia e Josep Val (BAAS Arquitectos) projectaram-no deste modo dissimulado junto de uma área residencial e enterrado no solo, fazendo referência aos ancestrais rituais de enterramento. O interior do edifício, todo em betão com aplicações de madeira, como se fosse ele mesmo um túmulo, é iluminado exclusivamente por pequenos pátios e clarabóias e dali apenas se pode ver o céu. A sobriedade e o despojamento do conjunto convida à reflexão e ao silêncio.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

O turismo cemiterial na literatura


Muitos escritores talentosos brindaram os leitores com histórias de seus passeios a cemitérios. Este é um belo conto de Lima Barreto intitulado "O Cemitério".


"Pelas ruas de túmulos, fomos calados. Eu olhava vagamente aquela multidão de sepulturas, que trepavam, tocavam-se, lutavam por espaço, na estreiteza da vaga e nas encostas das colinas aos lados. Algumas pareciam se olhar com afeto, roçando-se amigavelmente; em outras, transparecia a repugnância de estarem juntas. Havia solicitações incompreensíveis e também repulsões e antipatias; havia túmulos arrogantes, imponentes, vaidosos e pobres e humildes; e, em todos, ressumava o esforço extraordinário para escapar ao nivelamento da morte, ao apagamento que ela traz às condições e às fortunas.



Amontoavam-se esculturas de mármore, vasos, cruzes e inscrições; iam além; erguiam pirâmides de pedra tosca, faziam caramanchéis extravagantes, imaginavam complicações de matos e plantas - coisas brancas e delirantes, de um mau gosto que irritava. As inscrições exuberavam; longas, cheias de nomes, sobrenomes e datas, não nos traziam à lembrança nem um nome ilustre sequer; em vão procurei ler nelas celebridades, notabilidades mortas; não as encontrei. E de tal modo a nossa sociedade nos marca um tão profundo ponto, que até ali, naquele campo de mortos, mudo laboratório de decomposição, tive uma imagem dela, feita inconscientemente de um propósito, firmemente desenhada por aquele acesso de túmulos pobres e ricos, grotescos e nobres, de mármore e pedra, cobrindo vulgaridades iguais umas às outras por força estranha às suas vontades, a lutar...
Fomos indo. A carreta, empunhada pelas mãos profissionais dos empregados, ia dobrando as alamedas, tomando ruas, até que chegou à boca do soturno buraco, por onde se via fugir, para sempre do nosso olhar, a humildade e a tristeza do contínuo da Secretaria dos Cultos.
Antes que lá chegássemos, porém, detive-me um pouco num túmulo de límpidos mármores, ajeitados em capela gótica, com anjos e cruzes que a rematavam pretensiosamente.
Nos cantos da lápide, vasos com flores de biscuit e, debaixo de um vidro, à nívea altura da base da capelinha, em meio corpo, o retrato da morta que o túmulo engolira. Como se estivesse na Rua do Ouvidor, não pude suster um pensamento mau e quase exclamei:
— Bela mulher!
Estive a ver a fotografia e logo em seguida me veio à mente que aqueles olhos, que aquela boca provocadora de beijos, que aqueles seios túmidos, tentadores de longos contatos carnais, estariam àquela hora reduzidos a uma pasta fedorenta, debaixo de uma porção de terra embebida de gordura.
Que resultados teve a sua beleza na terra? Que coisas eternas criaram os homens que ela inspirou? Nada, ou talvez outros homens, para morrer e sofrer. Não passou disso, tudo mais se perdeu; tudo mais não teve existência, nem mesmo para ela e para os seus amados; foi breve, instantâneo, e fugaz.


Abalei-me! Eu que dizia a todo o mundo que amava a vida, eu que afirmava a minha admiração pelas coisas da sociedade - eu meditar como um cientista profeta hebraico! Era estranho! Remanescente de noções que se me infiltraram e cuja entrada em mim mesmo eu não percebera! Quem pode fugir a elas?
Continuando a andar, adivinhei as mãos da mulher, diáfanas e de dedos longos; compus o seu busto ereto e cheio, a cintura, os quadris, o pescoço, esguio e modelado, as espáduas brancas, o rosto sereno e iluminado por um par de olhos indefinidos de tristeza e desejos...
Já não era mais o retrato da mulher do túmulo; era de uma, viva, que me falava.

Com que surpresa, verifiquei isso
Pois eu, eu que vivia desde os dezesseis anos, despreocupadamente, passando pelos meus olhos, na Rua do Ouvidor, todos os figurinos dos jornais de modas, eu me impressionar por aquela menina do cemitério! Era curioso.
E, por mais que procurasse explicar, não pude."

Lima Barreto

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Características exclusivas da arte tumular


Houve um tempo em que os cemitérios eram praticamente o único lugar onde os artistas podiam exercitar sua liberdade criativa. A falta de controle e censura acabou por conferir características muito peculiares à arte tumular. Foi um momento particularmente interessante por exemplo, para que os anjos ganhassem sexo, e não raro também alguma dose de erotismo.A beleza e a sensualidade estão muito presentes, e algumas peças com certeza provocariam escândalo, se expostas em outros locais. Existe a possibilidade de que a natureza do local, e o fato de ser visto como espaço maldito, tenha terminado por proteger a liberdade criativa, e o que se vê ornando alguns túmulos, seria digno de grandes galerias de arte.


Mesmo as carpideiras, que tiveram um papel tão importante no passado, agora em pedra e bronze, ainda demonstram toda a sua feminilidade nas vestes esvoaçantes, eternizadas em seu pranto infinito.  Já foram catalogados mais de 700 símbolos na arte cemiterial, e alguns ainda em fase de pesquisa para se compreender porque seriam utilizados nas tumbas.
A incrível beleza plástica já justifica uma visita despretensiosa a um cemitério, mas aos poucos o país vai percebendo que as visitas monitoradas, com guias preparados para explicar os símbolos e as peças artisticas, e as informações coletadas, tornam o passeio muito mais rico e prazeroso.

Imagens: Anjos - Cemitério de Ribeirão Preto
                  Último adeus (túmulo da família Cantarella) - Obra de Alfredo Oliani

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Cemitério espanhol recicla cinzas em jardim aromático


A prefeitura de Barcelona inaugurou, no maior cemitério da cidade, um espaço em que as cinzas de defuntos cremados são usadas como adubo de um jardim de ervas aromáticas.  A idéia por trás do que as autoridades estão chamando de "o cemitério mais ecológico do mundo" é permitir que as cinzas possam ser recicladas no mesmo recinto em que família recordam seus entes queridos. Cada cliente terá a opção de depositar as cinzas em uma urna biodegradável ao lado da planta ou de enterrá-las diretamente para que sirvam de adubo de uma planta aromática, escolhida entre três espécies: alfazema, alecrim e sálvia. Ao lado de cada planta no chamado Jardim dos Aromas haverá uma placa de identificação do falecido. A família tem direito de levar algumas mudas para casa quando a erva crescer.O novo espaço funciona dentro do cemitério municipal de Montjuic.
 


O projeto do jardim surgiu da preocupação com o aumento do número de cremações na cidade. Segundo a prefeitura, em 2008 foram 6.782 serviços nos seis fornos crematórios municipais. Na nota à imprensa o diretor do departamento de cemitério de Barcelona, Jordi Carnes disse que "depois da cremação muitas pessoas têm o hábito de espalhar as cinzas de seus finados em lugares que nem sempre são adequados". "Por isso pensamos em um espaço ecológico". Uma área com 620 metros quadrados onde caberiam aproximadamente 700 mudas de plantas para defuntos.O novo serviço custará 350 euros (cerca de mil reais) por dois anos. A partir do terceiro ano, a taxa de manutenção será de 35 Euros (aproximadamente R$ 100,00). O contrato inclui a semente, plantio e cultivo da erva escolhida, além da lápide indicativa com os dados do defunto. O que está proibido é deixar recordações ao lado da erva medicinal. Nada de velas, fotos, objetos pessoais ou flores.
Fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/03/090330_cemiteriobarcelonaai.shtml

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Carpideiras


Um ofício da Idade Média extinto há dois séculos está sendo resgatado na Espanha para salvar a economia de muitas donas-de-casa em tempos de crise. Com a condescendência de sacerdotes católicos de paróquias rurais, estão de volta as carpideiras, mulheres que recebem dinheiro para rezar e chorar por mortos desconhecidos.


A tradição europeia das carpideiras, que atuam em dias de Finados, enterros, missas e datas como aniversários de mortes, foi proibida no século 18. No entanto, com a crise econômica mundial, parte do clero espanhol decidiu ser mais flexível, permitindo que as famílias consigam um dinheiro extra.
Para rezar e chorar por um morto desconhecido, as mulheres recebem entre 20 e 30 euros (cerca de R$ 60 a R$ 90) por dia.
Em datas como o feriado de Finados, o trabalho inclui ir ao cemitério, lustrar a lápide, trocar as flores, rezar e recitar salmos pelo morto. Ao contrário das profissionais da Europa medieval que gemiam alto, chegando a rasgar parte das roupas, davam socos no peito e até arrancavam fios de cabelo durante as atuações nas missas e funerais, as novas carpideiras do século 21 são discretas e rezam em silêncio.
Foi por estas encenações, consideradas escandalosas pelo Vaticano, que o ofício passou a ser perseguido a partir do século 13, até a proibição no século 18. A Igreja Católica ameaçou de excomunhão a quem continuasse chorando e gemendo alto por um morto desconhecido em troca de dinheiro, também porque as atuações assustavam os fiéis e incomodavam os sacerdotes que tinham de gritar para ser escutados durante as cerimônias.


Fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/11/091102_choradeiras_ai_ac.shtml

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Roteiros insólitos

O fascínio por lugares com fama de mal-assombrados tem atraído turistas a passeios que misturam bom humor, história e folclore. Desde 2006, a Secretaria Municipal de Turismo do Recife (PE) realiza, gratuitamente, em noites de lua cheia e de sextas-feiras 13, a trilha “Lendas do Recife”, que recebe até 5 mil pessoas por edição.

O roteiro inclui o rio Capiberibe, onde acredita-se que o fantasma Vira-roupas assusta as lavadeiras, e o Teatro Santa Isabel, onde há quem escute aplausos durante a noite. Enquanto turistas recebem vela e pergaminho, os guias representam lendas como Perna Cabeluda, que chuta pedestres e Laura Cemitério, conhecida por seduzir os homens que passam em frente ao cemitério Santo Amaro.

“Elaboramos o roteiro para despertar o interesse da população pela história da cidade, onde são presentes lendas e a idéia do macabro”, descreve Renato Barbosa, um dos criadores do passeio.

São Paulo também possui lendas, como a da loira do edifício Martinelli, no Centro, atração do passeio “São Paulo do Outro Mundo”. “Quando lançamos o circuito, em 2000, eram quatro vezes por ano. A procura foi tanta que agora fazemos uma vez por mês, com grupos de 20 a 42 pessoas. Brincamos com histórias de fantasmas, sem sensacionalismo”, afirma o criador Carlos Roberto Silvério. Para envolver o turista, é entregue um “kit lanche fúnebre”, embrulhado em papel negro e fita rocha, e o ônibus é decorado com teias de aranha, crânios e crisântemos (flores típicas de velórios), e tem música ambiente de vampiros e fantasmas. Entre os pontos visitados, estão os cemitérios do Araçá e da Consolação, o edifício Joelma, onde 200 pessoas morreram num incêndio; e o bairro da Liberdade, considerado o mais mal-assombrado, pois lá foi construído o primeiro cemitério da cidade.

No Rio de Janeiro, entre 1994 e 2001, havia um passeio pelos lugares mais assutadores da Cidade Maravilhosa, caso do Teatro Municipal, onde há quem tenha visto o poeta Olavo Bilac (1865-1918) declamando o discurso de inauguração, e o Museu Histórico Nacional, que dizem ser palco de debates entre oradores fantasmas.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Viagem póstuma


Nos últimos dois anos, Ralph B. White viajou por várias partes do mundo, passando por lugares como Nepal, China, Mongólia, Austrália, Ruanda, Itália, Islândia, Benin e Zanzibar.

Mas, na verdade, Ralph esteve presente nessas localidades mundo afora em forma de cinzas. Sim, ele morreu em 4 de fevereiro de 2008, aos 66 anos.

Desde então, a última companheira e amigos de Ralph passaram a levar pacotinhos com cinzas do americano aos lugares que visitam. Os restos mortais dele estão sendo depositadas em terra e mar.

"Mais do que ficarmos de luto por ele, ele queria incentivar as pessoas a desenvolver o espírito da aventura", disse Rosaly Lopes (na foto, jogando as cinzas de Ralph no Coliseu de Roma).

Ralph e Rosaly faziam parte de Adventurers' Club of Los Angeles.

Fonte: http://oglobo.globo.com/blogs/moreira/posts/2010/01/20/viuva-amigos-espalham-cinzas-de-americano-pelo-mundo-259182.asp