Uma
introdução à arte tumular tendo como iconografia 23 cemitérios
mineiros, de 13 cidades, com direito a alerta sobre a necessidade de
preservação deles. Essa é a proposta do livro Cemitério de Minas –
Cultura e arte, que será lançado hoje, no Museu de Artes e Oficios.
O livro é organizado pela jornalista e historiadora Christina Lima,
com pesquisa de Fabiano Lopes de Paula, fotos de Izabel Chumbinho, e
textos, também, de Haroldo Felício, João Caixeta, Fernando Cabral e
Ângelo Oswaldo de Araújo Santos, atual secretário de estado da Cultura.
“É um volume simples, sem a pretensão de ser livro de arte, que
apresenta ao público um pouco da arte tumular e mostra a importância dos
cemitérios de várias cidades de Minas Gerais”, explica o historiador e
arqueólogo Fabiano Lopes de Paula, autor do texto de introdução ao
livro.
O culto aos mortos e os cemitérios, sejam os mais simples ou
sofisticados, observa o pesquisador, são um material rico para a
compreensão da sociedade. “A morte e tudo que a cerca é um tema
universal”, diz o historiador, para quem “visitar cemitérios é uma
programação cultural”.
Lopes de Paula observa que “a arte funerária, desde a Antiguidade,
traduz um desejo de todos, sejam ricos ou pobres, de ser eternizados.
São, ainda, demonstrações de respeito e vontade de resguardar a
memória”. Na decoração dos túmulos, revelam-se as convicções religiosas e
até a situação financeira de quem fez a encomenda.
A decoração flutua ao sabor de modismos estéticos, adotando, no
geral, o padrão vigente de quando as sepulturas foram construídas, como
fica claro no uso de materiais (do mármore até o uso de flores de
plástico) e nas formas arquitetônicas do túmulo.
Católicos valem-se de anjos (da saudade, da consolação, da
anunciação), Nossas Senhoras, várias cenas da vida de Jesus, plantas
(lírios, rosas, oliveira, ciprestes) para criar alegorias sobre
passagens da vida terrena para a celestial.
Anglicanos, por não cultuar imagens, colocam sobre os túmulos apenas a
cruz. Em todos os casos, o que se busca é a personalização ao máximo do
morto. Com ferramentas alusivas à sua profissão (ramos de café, por
exemplo, se cafeicultor), caligrafia, retrato, signos de filiação a
grupos (como os maçons).
“Todo cemitério é histórico. Tem representações artísticas e é
espelho da cidade onde está localizado”, afirma Lopes de Paula. O modelo
que conhecemos hoje (fora da igreja e afastado dos centros urbanos por
motivos sanitários) vem do século 19. Sendo comum, nos mais antigos,
decorações com estéticas da época: o neoclássico (que com motivos
greco-romanos apresentava o cidadão como herói) ou o romantismo. Essa,
explica o pesquisador, revelada na tendência à representação da morte
como mistério e de forma sedutora, inclusive com anjos em poses
sensuais.
Restauração
O lançamento de Cemitérios de Minas faz parte da cerimônia de
entrega ao Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte de 21 livros de
óbitos, recuperados e restaurados pela instituição municipal e pelo
Instituto Cultural Flávio Gutierrez. O Arquivo passa a guardar o
material, que inclui documentos alusivos à construção da nova capital de
Minas Gerais, distribuídos em Livros de Registros de Sepultamento,
Livros de Protocolos de Processos, Livro de Arrecadação da Seção de
Rendas Patrimoniais e Livro de Divisão de Patrimônio, cada um dele com,
em média, 500 páginas.
Por Walter Sebastião
http://defender.org.br/noticias/mg-livro-cataloga-a-arte-tumular-de-23-cemiterios-espalhados-por-13-cidades-mineiras/